terça-feira, 14 de julho de 2015

O Silêncio que nunca soltei



 Sinto-me como se estivesse entre 4 paredes e o ar se tornasse mais escasso a cada respiração. O quarto ficando mais pequeno minuto a minuto sem margem para manobra, sem contornos e desvios. Como se a minha essência desvanece-se a cada aperto que aparece pelo caminho, a cada empurrão a alma fosse rasgada. A cada disputa, algo fosse deixado para trás. Afinal, todo espelho após algumas batalhas, acaba por partir. E o que será da alma, se não um espelho de nós mesmos. 

Embora não duvide que estar junto a alguém seja maravilhoso, cada vez esse horizonte está mais distante, não pelas guerras perdidas em campo de batalha, mas pelo sabor do vento que fica quando o papiro de rendição foi entregue e o silêncio retornado perdura na noite mais amarga em que nos encontramos. 

Perder um amor, toda a gente acaba por passar essa experiência. Eventualmente é o que faz de nós guerreiros(as) e nos dá mais destreza para o futuro. Mas ninguém nos ensinou a ler o silêncio, a ouvir o silêncio, ninguém mas ninguém, me falou que o que dói mais é deixar a esperança a cargo do vento e deixá-la ir na aventura de um caminho atacável. Que por ventura, podemos ficar sem saber o que aconteceu entre as luas que ela pairou. 

É deixar o beijo a meio, é ficar com a despedida interrompida, é não ter o olhar da ida. É sentimo-nos como se fossemos um puzzle, e no fim faltar a peça que juramos estar algures presente e ela por ‘ironia do destino’ estar ausente. 

Existe aquela velha frase de que ‘quem sempre espera, sempre alcança’, mas a mesma maça que hoje é vermelha, brilhante e suculenta, depois de aberta começa apodrecer. E o mesmo acontece com o nosso dito coração, uma vez aberto a alguém este fica à espera de receber afeto. E se com o tempo, (embora este não tão rápido quanto o de uma maça), não o tiver, vai partindo, vai ficando despedaçado, vai cair na esperança do ‘e se’ e nos olhos de outrem vai-se iludir.  Vai deixar entrar um cavalo de Tróia para queimar os restos e deixar o que já teve vida, em cinzas.

E no meio deste turbilhar de sentimentos, no fim das contas, acabo por me sentir como um lobo fora da matilha, um lobo solitário. Vendo os outros apaixonando-se, 'amando-se', por vezes, pessoas diferentes a cada 3 meses, enquanto eu... Eu continuo distante, à espera da resposta ao meu papiro.
Se é para amar à distância, ao menos amarei a lua que brilha perante mim e não me cede à escuridão.

“Existem noites em que os lobos ficam em silêncio, e apenas a lua uiva.” – George Carlin

domingo, 12 de julho de 2015

Voltar no tempo


Não foi somente sentir. Foi reviver, foi viver e ver. 

Foi mergulhar no sonho mais profundo e nadar até às memórias mais cavernosas. Foi sentir a corrente e o puxar da realidade que não queria atender. Foi afogar e ter consciência da loucura que estava acontecer. Foi talvez, o momento mais estranho que já vivi nos meus 20 anos. 

Foi voltar atrás no tempo. 

Olhar pela porta grande com o mesmo espírito de diversão sem sequer imaginar o que para lá estaria… Entrando e começando a ver pessoas, rostos desconhecidos, multidões de estranhos andando em todos os sentidos. A música alta embatia nas paredes, fumo que se tornava que nem nevoeiro e luzes esbarravam no meu olhar e assim o desfoque se pareceu inaugurar.

Foi como se estivesse a reviver o passado, dançando no meio da multidão no calor da noite, sem preocupações, sem medos, sem esperanças. 

E aí no primeiro choque, veio o primeiro pedido de desculpas. Naquele riso envergonhado e voz baixinha. Algo me despertou, um lado adormecido com a inocência de um toque nas costas. 

Como se estivesse um fogo ardente dentro de mim, uma bravura astronómica, como se minha a alma quisesse sair e voar fora, encontrar-te.

Foi querer-te, desejar-te. Foi ser louco e saber da loucura. Foi procurar-te sabendo que não estavas lá. Foi ver-te no meio da confusão, ouvir-te em volta, esperar-te no mesmo local. Foi dar um novo significado à loucura, foi senti-la de forma pura. 

O ar tornou-se pesado, a tristeza ficou minha sombra e o pesadelo foi real. O sorriso dado para o chão, foi por ventura o de derrotado, perceber que quem ama demais se acaba sempre se ferrando. 

Entendo então porque por vezes, quando pessoas sofrem um desgosto não entram em certos locais. As histórias nunca morrem e os sentimentos, sentem-se à flor da pele. 

O momento mais triste da vida, é quando te deparas com uma memória, uma fotografia, um texto ou uma conversa, da qual já não fazes mais parte. 

“Você não consegue explicar, mas sente.” – Renato Russo