terça-feira, 15 de agosto de 2017

São quatro da manhã

São quatro horas e dez minutos da manhã. E alguns segundos.
Segundos esses que não me importaria de os usar para te ver, segundos esses que num olhar, mudariam o meu dia. Segundos esses, que reformulariam o significado de tempo.

São quatro horas e onze minutos da manhã, marca o relógio neste momento. 
Começa novamente o barulho dos segundos, oiço-o no meu quarto como um eco do passado, uma voz miudínha que entre os toques se faz assumir e carrega memórias. 

Uma vida em que o som do relógio são as tuas gargalhadas, em que os segundos que eu agora conto, os teus beijos e os minutos que agora passam, os olhares que se trocavam. As horas, ficam entre estas quatro paredes.

São quatro e um quarto, o tempo voa, assim como a minha imaginação, pensando como seria voltar a sentir-te perto de mim, do meu toque. Voltar a sentir o perfume que roubavas e que eu tanto adorava. Voltar a sentir a tua presença constante como um relógio no pulso, bem apertadinho. 

Antigamente, este quarto era mais cheio, mais alegre, mesmo no inverno, mesmo quando a luz não brilhava ou quando o ar não se respirava, o quarto tinha mais cor, mais vida. E agora tudo o que se sente, é dor. 

Assim como o tempo que não faz paragens, a pulseira que me deste não sai deste pulso enquanto este coração não chegar a última estação. Não sai que eu não permito, porque uma promessa é para a vida inteira e quem ama, não esquece.


São quatro e meia, já nada me segura, está na hora de me desapegar, sei que já não me dói, porque o que já foi, já foi. Mas não vou dizer o que sinto, se digo, eu minto. E se esperam que eu caia ou fuja, eu não vou, porque é no perigo que eu encontro um porto de abrigo.

Está tarde para quem não se soube ter, um beijo.

terça-feira, 20 de junho de 2017

Destino


Acreditas?

Atrevo-me a dizer que é algo real, algo presente, algo presenciado todas as noites e dias através do mais pequeno gesto maldoso ao maior ato de altruísmo.

Atrevo-me a dizer que foste a prova real disso.

Procurei-te, esperei-te, encontrei-te, amei-te e agora, odeio.. odeio-me. Tive uma paciência incansável, uma força de guerreiro e uma teimosia tremenda. Sentei-me em todos os bancos de todas as estações de comboio, deitei-me em todos os jardins, olhei todos os horizontes pisando a areia, escutei os búzios, escrevi ao mar, chamei-te em todos os cantos do mundo, respirei-te em cada suspiro, imaginei-te em cada sonho e em cada filme, chorei por ti. E nessa gota solitária, encontrava-se a esperança, a semente do passado, o fruto do futuro e a raiz do presente. 

Se fosse vidente, consultava as estrelas, mas com a minha sorte eu sempre soube que em mim, não irias ficar.

Ao contrário de todas as ideias, de todos os locais, de todos os momentos que com o tempo idealizei, conheci-te no espaço que nunca escrevi nem pintei numa tela. E contigo, veio uma maré de confusão.

Destino tramado, mostrou-me o fruto proibido da forma mais discreta, para no fim, roubar-me atenção sem jeito. Da melhor armadilha, fez dela mulher.

Num olhar, decifrou-me. Num sorriso, deu-me o seu norte em um caminho só de ida. Regras foram quebradas, precauções debaixo de um pano e pensamentos encobertos com adrenalina. Na melhor armadilha que alguma vez conheci, soltei tudo. Dei tudo. Fiz tudo. Amei com tudo.

Ecos, percorreram ventos que no tudo esteve a demasia, mas só tolos se enganariam de tal forma.
Em um homem que ama, não existe “demasiado”, existe apenas um amor sem limites, um sentimento que esperou uma eternidade para sair do armário, um desejo sem barreiras, um caminho só de ida. E a um homem desses, não se fecha a porta. Abre-se uma janela ou deitar uma parede abaixo se for necessário.

Todos nós iremos amar alguém, não interessa o tempo, não interessam as condições, não interessa nada porque no fim, ninguém o sabe controlar. E saltar de cabeça, não é estupidez, é um ato de amor.

Um inocente mas gigante, ato de amor.

segunda-feira, 29 de maio de 2017

Amar é guerrilhar sem arma

Há vida sem amor, eu já presenciei, já assisti nos bastidores e vivo esse momento  agora. Mas há quem também morra de paixões, já vi quem se apaixone por mais que uma pessoa, que ama o namorado e se apaixona pelo vizinho e nem sequer irei julgar ou condenar, não sou ninguém para o fazer, mas todos nós nos apaixonamos por várias pessoas, mas não confundas, paixão é paixão, amor é amor.

Mas amar é guerrilhar sem armas, é ir à guerra lutar pelo que não te pertence porque tu não és dono de ninguém e ninguém é teu dono. Amas porque queres e dás-te amar porque é isso que desejas. É uma guerra sem fim, onde o tudo ou nada prevalece e quem com nada fica, morre.

E quem de pé está e sem chão fica, para onde vai? De que serve o "está tudo bem" "é só uma fase", de que serve isso quando o mundo ficou em silêncio e ninguém nos avisou de fazer as malas. Que cheiro ou toque te vai fazer sentir novamente o que mais desejas. Nada. Tornou-se a tua palavra predilecta.

Tens o direito de ir lá abaixo, de quase te entregares à escuridão. Tens esse direito de luto, porque essa pode ser uma forma de tocar o chão com os pés e ganhar o balanço que tanto precisas para voltar a respirar. Não importa o tamanho da queda, desde que não desistas de subir.

Histórias de amor, o mundo está repleto delas. Mas a minha é diferente, a tua diferente é e a dos outros, em algum aspecto será completamente oposta à nossa. Mas todas têm algo em comum.

Quando essa história termina, fica o quê?

As vezes não fica nada, é como se morresses. Quando amas muito uma pessoa e estás convencido que essa pessoa também te ama e ficas sem esse sentimento que chegava do outro lado, é como se voltasses a ter de aprender a comer, a falar, é como se ficasses sem saber caminhar, é rastejares no chão à procura do erro, à procura da razão, do porquê desse amor desvanecer. É olhares-te ao espelho e não gostares do que vês, é teres de arranjar força para comer, ir buscar forças para sair de casa, para estar com os amigos e só tu é que entendes, as pessoas não entendem. Porque enquanto tu ficas sem alma e brilho e percorres um caminho pobre, a outra pessoa faz a vida dela normalmente, como se nada tivesse acontecido porque a tua, a tua é que pára. Porque tu é que amas. Tu é que sais defraudado.

As noites tornam-se mais longas, porque tu é que te vais deitar a pensar naquilo, acordar a pensar naquilo, tu é que vais para o trabalho a pensar naquilo e quando chegas a casa, o que tu sabes fazer, é pensar naquilo. É escrever na parede, é só mais um dia. É ir ao ginásio puxar ferro porque não consegues tirar a pressão que sentes dentro de ti prestes a explodir. Porque quando tu amas e a pessoa deixa-te de amar, isso é uma coisa muito violenta. Há alturas em que preferes morrer.

Tu já não és tu depois de passares por esta guerra. Ninguém pode esperar de ti o que tinhas para oferecer há um ano atrás, porque num certo momento, a tua bagagem partiu e metade de ti ficou pelo caminho. As pessoas têm que perceber que por vezes, não há como fugir da situação, porque ela fica tão grande que nos engole por completo e não há escapatória por muito que se queira sair, mas não devia de ser isso a formar a opinião da pessoa sobre ti, porque também já foste feliz antes do nevoeiro.

A mítica salvação, deveria de ser o amor. Mas por ele, eu desleixei a minha vida toda, eu era incrivelmente feliz antes de o conhecer, fui mais ainda quando o provei. E eu quero acreditar numa coisa chamada amor, mas o que tenho no presente, é nada.




quinta-feira, 9 de fevereiro de 2017

E agora, somos lembranças.

Antes de mais, quero pedir-te as minhas mais sinceras desculpas.

E quero porque tu sempre estiveste lá para mim, sempre me seguraste quando o abismo se aproximava, sempre me cobriste no teu abraço quando a tempestade abanava os nossos pilares, sempre soubeste dizer as palavras certas em condições que o silêncio seria o ideal.
Tu, chegaste e fizeste de mim homem. Chegaste e ensinaste-me que ninguém tem de ficar só, que toda a gente tem direito a saborear um pouco de amor nesta curta vida que levamos, mas erros atrás de erros, levaram esse amor embora e uma vida que contigo parecia curta, sozinha tornou-se insuportavelmente longa. 

A estrada que era feita de alcatrão, num instante tornou-se terra repleta de lama, em que a cada memória, eu afogo-me. Os meus pés enterram-se e a lama entra, puxa-me para baixo e eu sem forças, nada faço para resistir.
Este não era de todo o caminho que eu sonhava para nós, mesmo quando encontrava-mos uma curva contra curva, nós de uma maneira ou de outra, a gente passava e superava. Mas desta vez, dentro de ti, a estrada deu com uma ponte, uma ponte que não constava no meu sonho. Uma ponte que não me aparecia na frente. A ponte, era a tua escapatória e eu sem a ver, cego pelo amor que por ti sentia, não me acreditei na existência dela e quando dei por mim, tu já estavas do outro lado. Tu já tinhas atravessado, estavas em frente a mim, tão perto e tão longe, ao alcance de um grito mas a ponte cresceu, a distância tornou-se irreversível e por muito que eu rasgasse as minhas cordas vocais, tu já não ouvias sequer o meu eco. E agora, somos lembranças.

Somos pequenos fragmentos de memórias que se vão guardando dentro de nós. As boas, ficam na mesinha de cabeceira mas as menos boas, essas ficam no espelho. Ficam nas cicatrizes da alma e quando me olho nele, vejo o quanto sozinho estou, o quanto vazio me sinto.

Somos lembranças do que em tempos nos fazia sorrir, do que em tempos nos fazia amar, acordar e ver uma simples mensagem que esboçava um sorriso no rosto, acordar e saber que alguém já pensava em nós. Lembranças dos sorrisos disparatados pelas coisas menos cómicas e por piadas sem pitada de sal. Olhares que desenhavam futuros e viajavam acordados, esses lindos olhos de uma mistura de azul e cinzento, com um fino e pequeno mas poderoso raio amarelo. Os olhos mais bonitos que alguma vez conheci, que alguma vez decifrei. 

Como se ultrapassa uma perda assim? Como se segue em frente quando o corpo implora para ficar, quando a mente só deseja voltar atrás no tempo, quando começas a perder a tua sanidade porque o teu mundo está a desabar e não existe solução possível. Como?

Atolar-me de chocolates, ver uma quantidade infinita de filmes, não pensar na morte da bezerra?
Os meus filmes favoritos são as lembranças, onde eu ainda sou dela, onde a podia abraçar a qualquer altura da noite, onde o riso dela é a minha música favorita, onde a demonstração animalesca dela é uma macaca um "pouco nada muito" esganiçada... Essas coisas mais ninguém terá o poder de me dar, é impossível, mais ninguém terá a intensidade dela, a sincronia dela comigo, a cumplicidade que transmitíamos um ao outro, o calor que habitava dentro de mim por saber que era amado.

Pequenos prazeres da vida que se tornavam gigantes, mas que agora nunca mais irão voltar.

E o tempo, o tempo será o pior inimigo. Com o tempo nada passa, piora. 

Não há tempo que cure isto, porque o tempo traz saudades e as saudades matam aqueles que já provaram um pouco do que é o amor... 

segunda-feira, 6 de fevereiro de 2017

Uma carta só de ida

Eu sempre te disse que o faria quando não houvesse amanhã. Já não há, tiraste-mo, acabaste, acabou. Descartaste-me da pior maneira, da maneira mais dolorosa. Eu percebo que não me quisesses magoar, mas essa atitude não foi a melhor, não foi mesmo e acabaste por te tornar numa terrorista, porque para isso, houve pensamentos e planeamentos, mas tens os meus parabéns porque o executaste na perfeição. Aquilo que na tua cabeça ainda era uma fantasia, tornaste-o realidade e destruíste não só um coração mas tudo aquilo e todos os sentimentos que o abraçam, eliminaste tudo o que de bom aqui ainda lutava, por ti e até por mim. E sem ti, como vou lutar por mim?

Todos temos os nossos defeitos, todos temos as nossas zangas, as nossas discórdias e aqueles típicos ciúmes. Temos isso tudo e mais ainda porque amámos. Mas como posso eu dizer que tu me amas? Uma pessoa que ama, não faz isso. Não destrói e sorri, não deixa a outra desamparada e diz que tudo está bem, não passa um mês e diz que já não sente amor, não passa um mês e uma semana e já se encontra com outro. Isso não é amor. Isso era dependência, era necessidade de um porto-seguro, era precisar de um terreno pacífico em tempo de guerra, era algo que eu próprio desconheço porque não consigo compreender que razões existem para uma bomba dessas ser largada desse jeito. Porque quando uma pessoa ama, o amor persiste, luta, vai de cabeça, dá o corpo ás balas.

Porque mesmo sem chão, o amor não caí. 

Não perde guerras nem batalhas, nada mas nada vence o amor. E prova disso, pensava eu sermos nós, dois desajeitados, duas forças opostas da natureza que lutavam desde o primeiro dia contra tudo e todos, contra o próprio universo. Era-mos imparáveis, inseparáveis, mesmo tão diferentes, não deixávamos a toalha cair.

Mas tu desististe.

Deixaste as vozes do universo levar a melhor, fechaste o amor para não ser sentido, deixaste-o apodrecer num canto. Deixaste-o só e continuaste a meu lado como se nada fosse.

Lembro-me das poucas palavras que foram dirigidas a mim, tais como; "Antes de amar alguém, tenho de me amar a mim", e isso é das piores desculpas, das piores mentiras que podes dizer a ti e a mim, porque neste mundo, ninguém se dá ao luxo de decidir quem amar primeiro, e tu, supostamente já me amavas. Lá está, supostamente.

Talvez nas fantasias essas lengas-lengas se apliquem, mas aqui na realidade, é que o amor é o melhor de qualquer mundo e tu deitaste-o fora. Descartaste-o de forma repugnante, afastaste-te pelo silêncio da noite e na manhã seguinte já não era o meu contacto que tu mais respondias.

Pelos vistos, a verdade é que eu realmente era quem amava mais... 

Não te censuro, não te julgo, não te guardo rancor. Mas não te perdoo.  
Não, não te desejo o melhor. Não, não sou o melhor. Simplesmente não és merecedora de tal.

Um beijo enorme. Como sempre e para sempre, Amo-te.