Pensei em escrever-te um pedaço da minha alma.
Quero
dizer-te que em cada segundo preso às tuas palavras, tu tinhas o meu
olhar. Quero dizer-te que em cada minuto usado em conversação, tu tinhas
a minha audição. Quero dizer-te que em cada hora usada a pensar em ti,
tu tinhas o meu coração. Tu tinhas, tu tens e tu irás continuar a ter,
todo o meu ser.
Na tua presença eu recebia pouco, mas tinha tudo o que precisava. Na tua ausência eu recebo imenso. Angústia. Raiva. Saudade.
É
triste e magoa, é ardente e malevolente, é poderoso e perigoso. É um
caminho obscuro sem direcção mas repleto de desvios, cada um com a sua
cruz, com a sua sina. É como acabar a água a um aventureiro que se
encontra em pleno deserto. É ficar com tolerância zero a lamentos, ser
imbecil para aquele que estende a mão, pensar que toda a miragem é real e
que toda a maçã vem de graça, sem veneno. É perder o chão e não ter asas para voar.
Sumiste.
Eu lutei, dei de mim aquilo que não sabia ter, prevaleci o mais que
pude, contra os ventos do norte, contra as chuvas de um inverno
rigoroso. Lutei contra o vazio que passou a existir em mim, na falsa
esperança que residia numa caverna aqui algures. Passei verdadeiras
tempestades, em que o bom tornava-se mau e a maldade começava a ter um
gosto divinal.
Eu via-te constantemente, estivesse eu de olhos
abertos ou fechados, tu estavas lá. Estavas na rua, estavas em cada
carro que por mim passava, em cada esplanada em que um riso se soltava,
em cada jardim que uma flor florescesse, em cada mulher que o seu cabelo
encaracolado dançasse ao sabor do vento. Estavas no meu quarto, no meu
computador, no meu telemóvel. Eu fechava os olhos e tu estavas lá, sempre estiveste em mim. Tão perto e tão longe ao mesmo tempo.
Eu, perdi a fé. A esperança fugiu no comboio mais rápido. E a felicidade morreu em alto-mar.
Hoje,
encontro-me na marina. Está frio e o rio está meio bravo. As luzes que
percorrem os passadiços onde se encontram os barcos, estão agitadas.
Estou onde os ventos se esbarram e as águas lutam entre si. Sinto o
vento, sinto o tempo a esfriar, sinto a força da água, consigo sentir
tudo. Tudo, menos a tua presença.
Quanto mais foco o olhar no
objecto mais distante desta cidade linda que tenho pela frente,
inocentemente as memórias que já naufragaram e no fundo permaneceram,
começam a vir à tona como se eu fosse um farol sinaleiro e no meio do
nevoeiro avistasse as luzes de um navio. A pouco e pouco, tornando-se
mais nítidas, eu sofro.
Sofro e não é pela distância.
Sofro e não é por saber que não faço falta. Sofro, por saber que tens alguém. Que alguém te tem. Que esse alguém não sou eu. Que arranjaste um porto-seguro e eu nunca passei de uma âncora. Eu sofro, e afundo-me nas minhas próprias lágrimas...
Sofro e não é por saber que não faço falta. Sofro, por saber que tens alguém. Que alguém te tem. Que esse alguém não sou eu. Que arranjaste um porto-seguro e eu nunca passei de uma âncora. Eu sofro, e afundo-me nas minhas próprias lágrimas...
‘A
dor da perda, só não é maior que a dor da partida, porque não se perde o
que não se tem. Mas nos perdemos na dor, quando o que parte é um grande
amor.’
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