quinta-feira, 9 de fevereiro de 2017

E agora, somos lembranças.

Antes de mais, quero pedir-te as minhas mais sinceras desculpas.

E quero porque tu sempre estiveste lá para mim, sempre me seguraste quando o abismo se aproximava, sempre me cobriste no teu abraço quando a tempestade abanava os nossos pilares, sempre soubeste dizer as palavras certas em condições que o silêncio seria o ideal.
Tu, chegaste e fizeste de mim homem. Chegaste e ensinaste-me que ninguém tem de ficar só, que toda a gente tem direito a saborear um pouco de amor nesta curta vida que levamos, mas erros atrás de erros, levaram esse amor embora e uma vida que contigo parecia curta, sozinha tornou-se insuportavelmente longa. 

A estrada que era feita de alcatrão, num instante tornou-se terra repleta de lama, em que a cada memória, eu afogo-me. Os meus pés enterram-se e a lama entra, puxa-me para baixo e eu sem forças, nada faço para resistir.
Este não era de todo o caminho que eu sonhava para nós, mesmo quando encontrava-mos uma curva contra curva, nós de uma maneira ou de outra, a gente passava e superava. Mas desta vez, dentro de ti, a estrada deu com uma ponte, uma ponte que não constava no meu sonho. Uma ponte que não me aparecia na frente. A ponte, era a tua escapatória e eu sem a ver, cego pelo amor que por ti sentia, não me acreditei na existência dela e quando dei por mim, tu já estavas do outro lado. Tu já tinhas atravessado, estavas em frente a mim, tão perto e tão longe, ao alcance de um grito mas a ponte cresceu, a distância tornou-se irreversível e por muito que eu rasgasse as minhas cordas vocais, tu já não ouvias sequer o meu eco. E agora, somos lembranças.

Somos pequenos fragmentos de memórias que se vão guardando dentro de nós. As boas, ficam na mesinha de cabeceira mas as menos boas, essas ficam no espelho. Ficam nas cicatrizes da alma e quando me olho nele, vejo o quanto sozinho estou, o quanto vazio me sinto.

Somos lembranças do que em tempos nos fazia sorrir, do que em tempos nos fazia amar, acordar e ver uma simples mensagem que esboçava um sorriso no rosto, acordar e saber que alguém já pensava em nós. Lembranças dos sorrisos disparatados pelas coisas menos cómicas e por piadas sem pitada de sal. Olhares que desenhavam futuros e viajavam acordados, esses lindos olhos de uma mistura de azul e cinzento, com um fino e pequeno mas poderoso raio amarelo. Os olhos mais bonitos que alguma vez conheci, que alguma vez decifrei. 

Como se ultrapassa uma perda assim? Como se segue em frente quando o corpo implora para ficar, quando a mente só deseja voltar atrás no tempo, quando começas a perder a tua sanidade porque o teu mundo está a desabar e não existe solução possível. Como?

Atolar-me de chocolates, ver uma quantidade infinita de filmes, não pensar na morte da bezerra?
Os meus filmes favoritos são as lembranças, onde eu ainda sou dela, onde a podia abraçar a qualquer altura da noite, onde o riso dela é a minha música favorita, onde a demonstração animalesca dela é uma macaca um "pouco nada muito" esganiçada... Essas coisas mais ninguém terá o poder de me dar, é impossível, mais ninguém terá a intensidade dela, a sincronia dela comigo, a cumplicidade que transmitíamos um ao outro, o calor que habitava dentro de mim por saber que era amado.

Pequenos prazeres da vida que se tornavam gigantes, mas que agora nunca mais irão voltar.

E o tempo, o tempo será o pior inimigo. Com o tempo nada passa, piora. 

Não há tempo que cure isto, porque o tempo traz saudades e as saudades matam aqueles que já provaram um pouco do que é o amor... 

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