Terça-feira.
Mais uma terça-feira em que a luz do sol fura pela persiana,
mas por sua vez, o quente que outrora esteve presente, sumiu. Entre os raios
que esbatem na parede, consigo assistir ao pó assentar, lentamente vai
vagueando sem direcção, num quarto sem alma. O ar, está denso. O peso da
amargura que aqui habita, tornou-se excessivo, caótico.
Acordei mas não quero sair destes lençóis, não quero sair da
minha zona de conforto e viver a realidade. Uma realidade onde tu não existes,
onde tu deixaste de fazer parte da minha vida. Quero fechar os olhos e ver-te,
quero inspirar e sentir o teu cheiro, quero fechar os dedos e sentir o teu
cabelo, no meio deles, escorregando, dançando.
Quero adormecer e sentir-me aconchegado, mesmo tu, não
estando a meu lado. Quero continuar a deixar uma almofada a mais na cama, mesmo
sabendo que não vens reclama-la. Quero aquele chat, aquela troca de mensagens,
a preocupação de desejar boa noite antes de adormecer. Quero a cereja no topo
do bolo. As tuas meias de algodão a fazerem-me cócegas debaixo dos lençóis.
Quero tudo e nada tenho, do querer ao ter, a distância é longa. E um homem
sedento pouco conseguirá caminhar…
Eu perdi. Perdi-te e perdi-me. De todas as maneiras e
feitios, mas o pior foi perder algo que nem sequer era meu para perder. Porque
o que havia, existia na minha cabeça, nas minhas invenções, nos meus sonhos. A
esperança foi-se e com nada fiquei, de mãos abertas escapaste-me e eu sem
forças não corri.
Mas não fui o único que perdeu…
Perdeste todas as terças-feiras de todas as semanas, de
todos os meses, de todos os anos. Perdeste cada momento íntimo, cada olhar,
cada beijo, cada toque. Perdeste o pequeno-almoço na cama acompanhada da risada
matinal. Perdeste passeios pela praia e junto ao rio, perdeste o som das
gaivotas e o rebentar das ondas, deixas-te fugir o vento e esse, as luzes da
noite levou e a brisa do dia, parou. Perdeste as noites de rádio no carro, de
vidros embaciados e climas esquentados. Sem me alongar, perdeste imenso e nem
conta deste.
Infelizmente, perdeste uma vida. Mas o que me entristece
mais, é que a culpa não é tua.
A culpa cai em quem te fez perder a coragem de começar algo
novo, algo diferente, algo com cores.
E se eu pudesse mentir, dizer-te-ia que não tenho saudades tuas.
E se eu pudesse mentir, dizer-te-ia que não tenho saudades tuas.
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