sexta-feira, 8 de maio de 2015

Perdi, Perdi-te e Perdi-me



Terça-feira. 


Mais uma terça-feira em que a luz do sol fura pela persiana, mas por sua vez, o quente que outrora esteve presente, sumiu. Entre os raios que esbatem na parede, consigo assistir ao pó assentar, lentamente vai vagueando sem direcção, num quarto sem alma. O ar, está denso. O peso da amargura que aqui habita, tornou-se excessivo, caótico.


Acordei mas não quero sair destes lençóis, não quero sair da minha zona de conforto e viver a realidade. Uma realidade onde tu não existes, onde tu deixaste de fazer parte da minha vida. Quero fechar os olhos e ver-te, quero inspirar e sentir o teu cheiro, quero fechar os dedos e sentir o teu cabelo, no meio deles, escorregando, dançando.


Quero adormecer e sentir-me aconchegado, mesmo tu, não estando a meu lado. Quero continuar a deixar uma almofada a mais na cama, mesmo sabendo que não vens reclama-la. Quero aquele chat, aquela troca de mensagens, a preocupação de desejar boa noite antes de adormecer. Quero a cereja no topo do bolo. As tuas meias de algodão a fazerem-me cócegas debaixo dos lençóis. Quero tudo e nada tenho, do querer ao ter, a distância é longa. E um homem sedento pouco conseguirá caminhar…

Eu perdi. Perdi-te e perdi-me. De todas as maneiras e feitios, mas o pior foi perder algo que nem sequer era meu para perder. Porque o que havia, existia na minha cabeça, nas minhas invenções, nos meus sonhos. A esperança foi-se e com nada fiquei, de mãos abertas escapaste-me e eu sem forças não corri.


Mas não fui o único que perdeu…


Perdeste todas as terças-feiras de todas as semanas, de todos os meses, de todos os anos. Perdeste cada momento íntimo, cada olhar, cada beijo, cada toque. Perdeste o pequeno-almoço na cama acompanhada da risada matinal. Perdeste passeios pela praia e junto ao rio, perdeste o som das gaivotas e o rebentar das ondas, deixas-te fugir o vento e esse, as luzes da noite levou e a brisa do dia, parou. Perdeste as noites de rádio no carro, de vidros embaciados e climas esquentados. Sem me alongar, perdeste imenso e nem conta deste.


Infelizmente, perdeste uma vida. Mas o que me entristece mais, é que a culpa não é tua.


A culpa cai em quem te fez perder a coragem de começar algo novo, algo diferente, algo com cores. 

E se eu pudesse mentir, dizer-te-ia que não tenho saudades tuas.

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